quinta-feira, 7 de abril de 2011

O violão e o pedreiro

Havia um violão abandonado num canto do barraco alugado pelo pedreiro. Nem o pedreiro nem a filha adolescente que também morava no barraco sabiam tocar violão. Um dia, o pedreiro ganhou um jogo de panelas Marmicoc numa rifa lá na obra e não tinha espaço no barraco onde guardar a tralha. Resolveu então se desfazer do violão.

Na comunidade tinha uma moça bonita, recepcionista no comércio, de quem o pedreiro gostava muito e que tocava violão. O pedreiro decidiu que o violão ia para ela. Mas a filha do pedreiro, mais esclarecida, aconselhou o pai a procurar alguém que entendesse de violão pra saber direitinho o quanto aquele ali valia. O pedreiro conhecia um velhinho na rua da Conceição que fazia reparos em violões e foi lá falar com ele.

- Traz o instrumento aqui que eu avalio.

O pedreiro embrulhou o violão numas folhas de jornal e foi lá na rua da Conceição no dia da folga. Quando desembrulhou o violão, o velhinho ficou paralizado! Faltou-lhe o ar, os olhos esbugalharam, a boca semidesdentada escancarou, estava estupefato pela visão. Passados alguns instantes, recuperou a consciência, levantou do banquinho, puxou um tapete aveludado para perto de si e pousou delicadamente o violão no tapete.

- Você não faz nem idéia, pedreiro! Nem idéia!

Foi até uma prateleira no fundo da lojinha, espalhou freneticamente para os chão uns livretos e revistas de cifras até encontrar o catálogo que queria. Voltou com o catálogo na mão, sentou outra vez no banquinho, tomando o cuidado de passar bem longe do violão pousado no tapetinho aveludado. O pedreiro parecia assustado:

- O que foi? Isso vale alguma grana?

O velhinho deu uma espiadela no pedreiro como quem diz "herege!", ergueu o rosto para os céus e respirou fundo antes de concentrar sua atenção no catálogo apoiado no colo. Na verdade ja sabia o que o catálogo iria apenas confirmar. Folheou rapidamente as páginas, de repente estancou em uma delas.

- Eu sabia! - exclamou o velhinho extasiado, batendo várias vezes com a palma da mão na página aberta. Eu sabia!!!

Com os olhos marejados, excitado como um crente que vê seu deus, levantou-se e sacudiu o pedreiro pelos ombros.

- Um Magnífico!!! Pedreiro do céu, isto aqui é um Magnífico legítimo!!! Será que você não entende?!!

- Parece boa coisa, né? - respondeu o pedreiro animando-se.

- Boa coisa?!! Você chama um Magnífico legítimo de "boa coisa"?!! Um Magnífico, pedreiro, é um dos dois violões gêmeos, os dois últimos a serem construidos à mão pelo próprio Romeo Di Giorgio em pessoa!!! - berrava o velhinho - Isto não é um violão! É uma obra de arte, uma raridade, uma Mona Lisa de Da Vinci, um Guernica de Picasso!!! Um Stradivarius dos violões!!! Sabe o que é isso, pedreiro?!!

- Bem...

- Perdoai-o, Senhor! Pedreiro, vou falar numa lingua que você entenda - o velhinho respirou fundo outra vez - Pedreiro, você está milionário! MI-LI-O-NÁ-RI-O!!! Entendeu agora?

- Acho que vou desmaiar...

- Desmaia, mas desmaia longe do Magnífico!

********

O Magnífico foi leiloado por U$ 5 milhões pela Sotheby's em Londres e o pedreiro ficou rico. Comprou uma mansão. Casou com a recepcionista. A filha foi estudar em Oxford. Deu uma mega-store de instrumentos musicais num Shopping de luxo para o velhinho da rua da Conceição. Resumindo: todos foram felizes para sempre e acabou-se a história.

MORAL:

Como é que o violão foi parar no barraco do pedreiro?

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