segunda-feira, 4 de julho de 2011

Quando o futebol brasileiro era bom

Quando o futebol brasileiro era bom, o Nilton Santos foi avançando ao ataque, foi avançando, avançando e, enquanto o treinador Feola gritava "Volta Nilton, volta Nilton!", fez um gol contra a Áustria na Copa 1958.

Quando o futebol brasileiro era bom, o Pelé reserva do Dida, o Garrincha reserva do Julinho e o Vavá reserva do Mazola passaram a titulares na Copa 1958 porque os jogadores Nilton Santos e Zito, entre outros, botaram o treinador Feola contra a parede: "ou eles entram ou a gente perde esta merda".

Quando o futebol brasileiro era bom, o treinador Tim, do Fluminense, armou sua mesa de botões pra mostrar aos jogadores as suas posições no campo contra o Flamengo. O atacante Rodrigo, vendo seu "botão" na intermediária, empurrou-o para a marca do pênalti e, batendo várias vezes com o dedo sobre o botão, sentenciou: "É aqui! É aqui que eu jogo!"

Quando o futebol brasileiro era bom, o Clodoaldo combinou mudar de posição com o Gérson – contra a ordem do treinador Zagallo - e marcou o gol de empate na semi-final da Copa 1970 contra o Uruguai. O Brasil foi à final e ganhou o tri-campeonato.

Quando o futebol brasileiro era bom, a Democracia Corintiana foi bi-campeã paulista em 1982 e 1983 com a auto-gestão dos jogadores, liderados por Sócrates, Zenon, Vladimir, Zé Maria e Biro-Biro, sem que ninguém consiga se lembrar quem foram os treinadores (*).

Quando o futebol brasileiro era bom, o Paulo César Carpeggiani pendurou as chuteiras e imediatamente foi ser treinador dos seus ex-companheiros de Flamengo: Zico, Leandro, Junior, Tita, Adílio, Andrade etc. Distribuiu as camisas e disse: "Joguem!". O Flamengo foi Campeão do Mundo Interclubes em 1982.

Estes e muitos outros exemplos da história do nosso futebol marcam um tempo em que os jogadores comandavam o espetáculo e a importância dos treinadores era secundária. Naqueles tempos, o futebol brasileiro era bom.

Hoje temos os 'professores', inflados na beira do campo, cheios de verborragia, munidos de aparatos eletrônicos espetaculosos e armados na disciplina militar (obedeça ou obedeça), que só servem pra dar aparência nobre à sua incapacidade cada dia mais nítida.



O atual ‘professor-mor’ Mano Menezes, no seu futebolês, propagandeia que a 'modernização' da Seleção Brasileira passa pela convocação dos craques "desde que eles se adaptem aos ‘nossos’ métodos, esquemas, sistemas, normas e projetos." Quer dizer, ele quer craques mas não quer que joguem como craques.

O futebol brasileiro não pode depender dos ‘professores’, como nunca dependeu dos treinadores. O futebol brasileiro precisa é que não atrapalhem os nossos craques que querem jogar sua bola. Resumindo: nestes tempos de ‘professores’ o grito da torcida é sempre “Burro! Burro!”, no tempo dos jogadores o grito era “Brasil! Brasil!”. Isto explica tudo.

(*) Mario Travaglini e Zé Maria foram os treinadores

Um comentário:

  1. Infelizmente, o tempo bom mesmo, eu perdi...até me lembro de alguma coisa, mas pouco...hoje ficamos catando migalhas...fui criado com o sentimento de ser onipotente perante ao futebol...nem os adversários sentem isso...mas apenas vivenciei sofrimentos...rsrsrs

    Ótimo blog!

    []s

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